Wanessa Camargo fala sobre crises de pânico e psicólogo analisa
Alexander Bez explica a origem de episódios, tratamento e cuidados
Wanessa Camargo se abriu durante ao participar da série “É o amor”, da Netflix que conta a história da sua família. Durante as gravações a cantora teve uma crise de pânico e precisou ser acolhida pelo sertanejo, Zezé Di Camargo, no banheiro. Inclusive, sua síndrome foi o principal motivo que fez com que seu pai e a mãe (Zilu), fizessem as pazes após o divórcio para discutirem a situação de Wanessa.
“Durante muitos anos, estava ensaiando falar algumas questões que aconteceram ali na série. Eu tinha muita vergonha de falar que eu tinha bulimia, síndrome do pânico. Já tinha falado que muitas questões de pressão foram muito fortes na minha vida, junta com a cabeça que estava fraca a autoestima baixa. O destino pega a gente de calça curta. Quando estava começando a gravar a série, comecei a ter crise de pânico e eu não tinha há muito tempo. Perdi meu avô, o Aguiberto Santos (assessor pessoal), que trabalhava comigo, e muitas coisas que me deram gatilho. O pânico veio avassalador e eu vi que nunca tinha me curado dessas coisas”, conta a cantora.
Segundo o psicólogo Alexander Bez, especialista em Ansiedade e Síndrome do Pânico pela Universidade da Califórnia (UCLA), quando falamos em síndrome do pânico, é importante entender que ela é uma patologia 100% emocional.
“A psicologia americana já provou que, ao contrário do que muitas pessoas acham, a síndrome do pânico ela não tem nenhuma ligação morfológica, neuropsiquiátrica ou neuropsicológica ou até neurológica. Ela é a manifestação mais exacerbada do transtorno de ansiedade, considerada uma releitura da histeria nos tempos de Freud. Então, estamos falando de uma das doenças psicológicas mais avassaladoras que existem.”
Ele também reforça que apesar de algumas pessoas se confundirem ao achar que a síndrome do pânico se desenvolve a partir da depressão – conceito que caiu por volta dos anos 90 – os estudos atuais comprovam que ela vem da ansiedade.
A atriz conta na entrevista que no começo das gravações ela conseguia guardar suas odres, mas que com o começo da pandemia a situação piorou.
“Não tinha como segurar. Quando o Aguiberto morreu, em abril, fiquei sem chão, uma semana na cama, quase sem ver os meus filhos”, relatou (mãe de João Francisco e José Marcus).”
“O sofrimento com as crises é muito intenso, uma vez que os sintomas são muito fortes. A sintomatologia do pânico inclui diversos sintomas físicos, o pior deles é a manifestação eminente de morte, no qual a pessoa fica em constante alerta e acha que vai morrer. Inclusive, ano passado houve um aumento de, aproximadamente, 60% da doença em detrimento do medo que a pandemia trouxe aos EUA”, disse o psicólogo.
Wanessa Camargo disse que em uma das suas piores crises foi desabafar com a atriz Fernanda Souza, que indicou um lugar que foi “muito bom” para sua saúde emocional.
“Fiquei lá alguns dias e me fortaleci, porque eu não queria tomar remédio. Entendi que sempre tive muita dificuldade de lidar com a morte, porque tenho muito medo de morrer. Depois voltamos a gravar a série e eu decidi expor tudo para ajudar outras pessoas que passam pela mesma situação”, expos.
Inclusive, esse é um dos sintomas que a Wanessa Camargo se queixou na entrevista dada a Revista Quem. A sensação de “ficar louca” se dá porque essa é a principal sintomatologia do pânico, já que são várias sensações ao mesmo tempo. Dentre elas a taquicardia, o que gera falta de ar, incômodo intestinal, vertigem, tonturas, dores no corpo, mas tudo isso com origem totalmente psicológica.
De acordo com Alexander, a psicanálise clínica afirma que quando a pessoa sofre um gatilho, que faz parte do inconsciente, que no caso da cantora foi a morte do avô, o ato de relembrar, transforma o conteúdo que até o momento estava adormecido, em algo vivo, gerando as crises.
“É importante saber que a síndrome do pânico tem cura, o que não tem cura é o transtorno de ansiedade. Hoje, o protocolo americano de síndrome do pânico já não envolve só a psicoterapia. Ela pura, sem medicação, comporta somente de 50 a 60% da necessidade. Para que haja uma eficácia maior o tratamento também envolve administração de ansiolítico, ou seja, o tratamento completo é feito com orientação psicanalítica e medicamentosa. Não dá para tratar uma síndrome em pânico severa sem medicamento, porque ela é uma doença gradativa e progressiva, a ansiedade precisa ser contida pela medicamentação. Então, na minha visão como profissional especializado no assunto, a Wanessa deveria considerar partir para um tratamento orientado por um psicanalista e um psiquiatra, pelo bem da sua saúde mental”, explica especialista.
Alexander Bez finaliza dizendo que existem ações complementares que ajudam no tratamento da doença, como atividades socioculturais, musculação com aeróbica (que funciona muito como uma terapia ocupacional). Uma vez que a ansiedade, que gera a síndrome do pânico, é uma coisa que sempre vai precisar de tratamento e atenção, ela faz com que o cuidado com a saúde mental seja constante.